A beleza depende cada vez mais dos elementos materiais do
que das virtudes. O ser humano cada vez mais se afasta do amor platônico e do
amor cortês para ir em busca de um amor que nem ele mesmo sabe definir, se é
que é possível chamar de amor esse apego pelos interesses próprios difundidos
por aqueles que controlam a sociedade.
O belo não depende mais dos nossos mais íntimos desejos, tem
lugar definido na ideologia dominante. A sociedade reprime aqueles que não
condizem com suas expectativas, e estas, determinadas pelos donos da verdade.
Liberdade feminina? Penso se realmente é possível falar em
liberdade feminina. Penso se a mulher tem o direito de se achar bonita tal como
ela é. Para conseguir um emprego, para estar no foco das luzes midiáticas, para
ser chamada de gostosa ou Garota de Ipanema (por que a garota de Bangu ninguém
quer ver passar?). Cabelos lisos, os mais belos. Quem disse? O moicano, antes
uma forma de rebeldia e visto como ridículo, hoje é moda para alguns jovens que
seguem a moda de Neymar. Algumas mulheres se arriscam em inovar seu penteado,
mas a boa aceitação é restrita ao meio artístico. Se numa entrevista para um
trabalho duas mulheres disputam por uma vaga, sendo uma delas de cabelos lisos
e outra com um corte fora do padrão de beleza, o primeiro critério a ser
avaliado não é o caráter e a qualidade profissional, mas o autoritarismo social
do Belo. Não é diferente num desfile, concurso ou qualquer seleção de mulheres.
Aquelas que querem conseguir ser escolhida e não possuem o cabelo originalmente
liso, precisam apelar para a chapinha.
Em um concurso para Miss, todas ou quase todas as mulheres
se apresentam de cabelos lisos, inclusive as negras. aliás, ser negra já é um
desafio no quesito beleza, para os padrões da nossa sociedade. Elas são
minorias nas novelas, nos catálogos de moda, nas revistas, e raríssimas nos
altos cargos das empresas.
: postagem recuperada do antigo blog obscenatorio.wordpress.com