terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Fique pelado em público, e seja feliz!

Poderíamos interpretar que a crítica ocidental de alguns movimentos libertários quanto à liberdade está nas vestimentos. Seria possível concluir isto tendo em conta às criticas que fazem ao uso da burca por algumas muçulmanas. Frequentemente nos deparamos com notícias que criticam o conservadorismo e a falta de liberdade em culturas em que as mulheres islâmicas usam a burca nas ruas. Mas por que tirar a burca faria com que fossem mais felizes e mais livres? Bom, esta é a concepção ocidental.

O interessante artigo de Lila-Abu-Lughod, "As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação? reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus outros", aborda questões de reflexão acerca de como vemos o mundo muçulmano com os nossos olhares ocidentais. Mais ainda, o interesse político por trás da disseminação da ideologia de que somos mais livres do que eles. Numa das passagens do artigo, a autora reproduz (e também reproduzo aqui), como o colonialismo francês tentou impor na Argélia um modelo de mulher livre:

"Talvez o mais espetacular exemplo de apropriação colonial das vozes femininas e o silenciamento daquelas entre elas que tinham começado a tomar mulheres revolucionárias... como papéis modelo por não vestir o véu, foi o evento de 16 de maio de 1958 [apenas quatro anos antes de a Argélia finalmente ganhar sua independência da França depois de um longo conflito sangrento e 130 anos de controle francês]. Naquele dia a demonstração foi organizada por generais franceses sublevados em Argel para mostrar a determinação deles de manter a Argélia francesa. Para dar ao governo da França evidência de que argelinos estavam de acordo com eles, os generais arranjaram alguns milhares de homens nativos, levados de ônibus das vilas próximas até o local, junto com algumas mulheres das quais o véu foi solenemente retirado por mulheres francesas. Arrebanhar argelinos e trazê-los para demonstrações de lealdade à França não era em si um ato incomum durante a era colonial. Mas retirar o véu de mulheres numa tão bem coreografada cerimônia acrescentou ao evento uma dimensão simbólica que dramatizava a característica constante da ocupação argelina pela França: sua obsessão com as mulheres."

É possível compararmos, por exemplo, com a chegada da campanha portuguesa ao Brasil. Com o intuito de catequizar e domesticar os índios, os colonizadores tentaram trazê-los para a cultura europeia, com o argumento de civilizá-los e libertá-los. Somente a crença cristã seria capaz de fazer com que os índios fossem seres livres e tivessem então a salvação.

Então, por que essa obsessão em afirmar que uma muçulmana não é livre por usar a burca? Quem disse que a liberdade pela qual as mulheres estão lutando é a de poder usar um shortinho e um decote, mas que ao mesmo tempo se sentem desrespeitadas por se depararem com homens olhando para suas curvas?

Não fazemos tal crítica quando temos que ir a algum restaurante, festa elegante ou outro evento que determine um padrão de vestimenta socialmente aceitável que determine cobrir algumas partes dos nossos corpos.

Uma notícia recente tem criado polêmica. A construção de um prédio público, no Paraná, para um Conservatório de Música, em os banheiros tem paredes de vidro e é possível ver de fora o que acontece lá dentro. Por que querer tanta privacidade? Ora, a privacidade é um direito, assim como é um direito as mulheres muçulmanas se comportarem vestindo uma burca, não querendo se expor à sociedade, porque este hábito tem um sentindo dentro de suas regras, hábitos, costumes...

Acredito que falta liberdade à mulher tanto no mundo ocidental como no mundo oriental. Tendo o patriarcalismo como base fundamentadora dos hábitos, costumes, moral, regras, leis etc. o machismo será dominante e as mulheres estarão sujeitas a submissão. A mulher precisa ter o direito de escolher, ter o direito de decidir o que fazer com o seu corpo, seja mostrá-lo ou cobri-lo, ter o direito de ter salários iguais aos dos homens, ter o direito de ser livre.

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