Corta!
Na primeira cena a personagem se despe e permite que a
água morna caia sobre o seu corpo que já virado para o telespectador
abraçado estão os seios escondidos da câmara próxima cena ela esparrama-se
na cama com o amante sob os lençóis trepam violentamente sussurros
enlouquecidos gemido do gran finale ela precisa levantar-se ir ao
banheiro lavanta-se tapando as mamas a seguir o retorno nova cena os
biquinhos em nenhum momento à mostra deita na cama as tetas ainda
enlaçadas por um dos braços enquanto o outro puxa de volta o lençol que o
pudor cinematográico se foda
O vídeo acima é a compilação de três cenas do filme Amarelo
Manga, que, por estar hospedado no youtube, teve a parte principal cortada
(cena em que Lígia (Leona Cavalli) levanta na mesa e mostra os pentelhos
amarelo manga de sua buceta). Na época, houve críticas de atentado ao pudor, a esta,
e outras cenas, como a que Kika (Dira Paes), ao deixar o seu lado evangélico e
casto, mostra o seu despudor enfiando o cabo duma escova no cu de Isaac (Jonas
Bloch).
Como bem escreve Janilto Andrade, no livro Erotismo em João
Cabral, não há intenção pornográfica na cena de Lígia, mas sim, obsceno é o
gesto da personagem machista que vê a mulher sempre como um objeto sempre a
satisfazer os desejos do homem. A atitude da personagem de Leona Cavalli é
libertadora, é uma ação inteligente e libertina contra à estupidez e grosseria
machista.
Por outro lado, muitos diretores tentam ser
"corretos", não "pornográficos", sem atentar ao pudor, e
acabam cometendo um grave erro, levando ao ridículo algumas cenas. Destes
filmes que prevalecem o pudor e acabam por prejudicar suas cenas, um dos mais
marcantes que me vem à memória é Psicose, no momento em que a personagem
principal está tomando seu banho e de repente a mãe do rapaz do hotel surge e,
à toscas facadas, mata a mulher. No instante em que a mãe dá as facadas, a
personagem principal tenta, com uma das mãos, se defender, mas, com a outra,
fica escondendo seus seios, mostrando-nos uma cena realmente tosca. Quando um
diretor faz cobrir os seios, a vagina, o pênis dos personagens em uma cena de
sexo, por exemplo, fica claro que os gestos dos atores não pertencem à cena,
mas são apenas meios de se tapar, ridiculamente, as imagens que a nossa
sociedade conservadora tanto considera como depravante. Não é diferente, ainda
que sob outra ótica, o que ocorre com o filme "E aí, comeu?".
Recheado de palavrões, mas palavrões estes que hoje em dia já perdeu o seu
caráter de baixo calão, sendo mais um clichê, um meio apelativo para conquistar
o público, as cenas não apresentam qualquer imagem "agressiva", na
verdade o filme é cheio de pudor, mostrando personagens tímidos em suas ações
em relação ao sexo. Já o Erva do Rato, mostra cenas explícitas de Alessandra
Negrini, que nem por isso são ofensivas. Ao contrário, de um ponto de
vista bem parecido com Amerelo Manga, o filme traz à tona o despertar sexual de
uma mulher reprimida com a cultura do sexo, em que a liberdade sexual é vista
como pecaminosa mas ao esbarrar com acontecimentos inesperados liberam seus
instintos mais ferozes.
Fecho este artigo inicial com a frase da personagem
transeunte, que é uma ponta do diretor Cláudio Assis, à evangélica Kika: “O
pudor é a forma mais inteligente de perversão”.
E aí, é obsceno pra você?
: postagem recuperada do antigo blog obscenatorio.wordpress.com
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