quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O pudor no cinema



Corta!

Na primeira cena a personagem se despe e permite que a água morna caia sobre o seu corpo que já virado para o telespectador abraçado estão os seios escondidos da câmara próxima cena ela esparrama-se na cama com o amante sob os lençóis trepam violentamente sussurros enlouquecidos gemido do gran finale ela precisa levantar-se ir ao banheiro lavanta-se tapando as mamas a seguir o retorno nova cena os biquinhos em nenhum momento à mostra deita na cama as tetas ainda enlaçadas por um dos braços enquanto o outro puxa de volta o lençol que o pudor cinematográico se foda



O vídeo acima é a compilação de três cenas do filme Amarelo Manga, que, por estar hospedado no youtube, teve a parte principal cortada (cena em que Lígia (Leona Cavalli) levanta na mesa e mostra os pentelhos amarelo manga de sua buceta). Na época, houve críticas de atentado ao pudor, a esta, e outras cenas, como a que Kika (Dira Paes), ao deixar o seu lado evangélico e casto, mostra o seu despudor enfiando o cabo duma escova no cu de Isaac (Jonas Bloch).

Como bem escreve Janilto Andrade, no livro Erotismo em João Cabral, não há intenção pornográfica na cena de Lígia, mas sim, obsceno é o gesto da personagem machista que vê a mulher sempre como um objeto sempre a satisfazer os desejos do homem. A atitude da personagem de Leona Cavalli é libertadora, é uma ação inteligente e libertina contra à estupidez e grosseria machista.

Por outro lado, muitos diretores tentam ser "corretos", não "pornográficos", sem atentar ao pudor, e acabam cometendo um grave erro, levando ao ridículo algumas cenas. Destes filmes que prevalecem o pudor e acabam por prejudicar suas cenas, um dos mais marcantes que me vem à memória é Psicose, no momento em que a personagem principal está tomando seu banho e de repente a mãe do rapaz do hotel surge e, à toscas facadas, mata a mulher. No instante em que a mãe dá as facadas, a personagem principal tenta, com uma das mãos, se defender, mas, com a outra, fica escondendo seus seios, mostrando-nos uma cena realmente tosca. Quando um diretor faz cobrir os seios, a vagina, o pênis dos personagens em uma cena de sexo, por exemplo, fica claro que os gestos dos atores não pertencem à cena, mas são apenas meios de se tapar, ridiculamente, as imagens que a nossa sociedade conservadora tanto considera como depravante. Não é diferente, ainda que sob outra ótica, o que ocorre com o filme "E aí, comeu?". Recheado de palavrões, mas palavrões estes que hoje em dia já perdeu o seu caráter de baixo calão, sendo mais um clichê, um meio apelativo para conquistar o público, as cenas não apresentam qualquer imagem "agressiva", na verdade o filme é cheio de pudor, mostrando personagens tímidos em suas ações em relação ao sexo. Já o Erva do Rato, mostra cenas explícitas de Alessandra Negrini, que nem por isso são ofensivas. Ao contrário, de um ponto de vista bem parecido com Amerelo Manga, o filme traz à tona o despertar sexual de uma mulher reprimida com a cultura do sexo, em que a liberdade sexual é vista como pecaminosa mas ao esbarrar com acontecimentos inesperados liberam seus instintos mais ferozes.

Fecho este artigo inicial com a frase da personagem transeunte, que é uma ponta do diretor Cláudio Assis, à evangélica Kika: “O pudor é a forma mais inteligente de perversão”.

E aí, é obsceno pra você?

: postagem recuperada do antigo blog obscenatorio.wordpress.com

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